1. |
Prólogo
03:28
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Fidel Castro, na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento de 1992, Rio de Janeiro:
"Uma importante espécie biológica está em risco de desaparecer com a rápida e progressiva liquidação de suas condições naturais de vida: o ser humano.
Agora tomamos consciência desse problema, quando é quase tarde demais para impedi-lo.
É preciso salientar que as sociedades de consumo são as principais responsáveis pela atroz destruição do meio ambiente.
Elas nasceram das antigas metrópoles coloniais e de políticas imperialistas que, por sua vez, geraram o atraso e a pobreza que afetam a imensa maioria da humanidade.
Com apenas 20% da população mundial, elas consomem dois terços de todos os metais e três quartos de toda a energia produzida no mundo.
Envenenaram os mares e os rios, contaminaram o ar, destruíram e perfuraram a superfície do solo.
Saturaram a atmosfera de gases que alteram as condições climáticas, com efeitos catastróficos que estamos começando a sofrer.
As florestas desaparecem, os desertos se expandem.
Milhões de toneladas de terra fértil vão parar no mar todos os anos.
Inúmeras espécies se extinguem.
A pressão populacional e a pobreza levam a esforços desesperados para sobreviver às custas da natureza.
Não é possível culpar os países do Terceiro Mundo por essa situação.
Ontem colônias, hoje nações exploradas e saqueadas por uma ordem econômica mundial injusta.
A solução não pode ser impedir que o desenvolvimento chegue aos que mais precisam.
A verdade é que tudo o que contribui hoje para o subdesenvolvimento e a pobreza constitui uma violação flagrante da ecologia.
Dezenas de milhões de homens, mulheres e crianças morrem todos os anos no Terceiro Mundo como consequência disso.
Mais mortes do que em cada uma das guerras mundiais.
O comércio desigual, o protecionismo e a dívida externa agridem a ecologia e promovem a destruição do meio ambiente.
Se queremos salvar a humanidade dessa autodestruição, precisamos distribuir melhor as riquezas e as tecnologias disponíveis no planeta.
Menos lucro e menos desperdício em alguns poucos países para que haja menos pobreza e menos fome na maior parte do planeta.
Pelo fim das transferências ao Terceiro Mundo de estilos de vida e hábitos de consumo que arruínam o meio ambiente.
Que se faça mais racional a vida humana, que se aplique uma ordem econômica internacional justa, que se utilize toda a ciência necessária para o desenvolvimento sustentável sem contaminação.
Que se pague a dívida ecológica e não a dívida externa.
Que desapareça a fome e não a humanidade.
Quando as supostas ameaças do comunismo tiverem desaparecido, e não houver mais pretextos para guerras frias, corridas armamentistas e gastos militares, que é o que impede o uso imediato desses recursos para promover o desenvolvimento do Terceiro Mundo e combater a ameaça de destruição ecológica do planeta, que cessem os egoísmos.
Que cessem os hegemonismos.
Que cesse a insensibilidade, a irresponsabilidade e a mentira.
Amanhã será tarde demais para fazer o que devíamos ter feito há muito tempo.
Obrigado."
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2. |
Cúmulo
04:06
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É ódio
Nojo
Angústia
Revolta
E dor
Que não encontram alvo
Alívio
Força (corpo)
Palavra
Ou fim
E adoecem tudo
Queimando
O peito
E a carne
E o sangue
Em febre violenta
Arde
Pulsa
Range
Os ossos
Em espasmos difusos
Confusos
Bruscos
Sem rumo
Ao caos
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3. |
Antropoceno
04:22
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O estado chegou, não para garantir direitos, mas para construir ruínas. E as ilhas-quilombos viraram água. Árvores mortas lançam seus braços esquálidos em direção ao céu, tornadas estátuas de desespero. E a pele do rio apodrece. A água agora cheira a cadáver.
Violência e extermínio costuram com linhas de sangue a história da invasão dos brancos.
Condenados ao Antropoceno e à sexta extinção das espécies. Milícias, grileiros, madeireiros, mineradores, latifundiários, bilionários, especuladores, fascistas, déspotas. Devoram o planeta e lançam bilhões à miséria.
A mentira do século é que estamos todos no mesmo barco. Não estamos. A maioria vive à deriva e a minoria culpada navega em iates de luxo.
(Trecho adaptado da obra Banzeiro Òkòtó (Companhia das Letras, 2021) de Eliane Brum.)
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4. |
NAPË
03:15
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Terra seca
Água morta
Mata queimando
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5. |
Desarmados
05:59
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Morrem
Os pobres
De espírito viciado em fé
Tanto tempo explorados por fardados
Basta
De mortes
Jaz a esperança a sete palmos
Seguimos armados de desespero
Marcham
Os porcos
De espírito viciado em ódio
Tanto tempo comedores de terra
Basta
De golpes
Jaz a esperança a sete palmos
Seguimos desarmados na resistência
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6. |
Meta
06:00
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Esses vermes de sapatênis
Enchem o cu de dinheiro
Vendendo dados de fudidos da cabeça
Adictos por likes
Distraem com games gatos tik tokers traders lacres cursos coaches
Prometem sucesso entregam doença
Ansiedade surto Rivotril
Vira meme feed muitos likes reacts DMs
Socam mais grana no bolso do reptiliano maldito.
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7. |
Milenial
01:59
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2 litros
De água
No meet
Mais briefing
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Low carb
No vape
Um trago
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3 séries
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Não surta
Não surta!
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8. |
Inflexão
06:03
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"A floresta está viva. Só vai morrer se os brancos insistirem em destruí-la. Se conseguirem, os rios vão desaparecer debaixo da terra, o chão vai se desfazer, as árvores vão murchar e as pedras vão rachar de calor. A terra ressecada ficará vazia e silenciosa. Os espíritos xapiri, que descem da montanha para brincar na floresta em seus espelhos, fugirão para muito longe. Seus pais, os xamãs, não poderão mais chamá-los e fazê-los dançar para nos proteger. Não serão capazes de espantar as fumaças de epidemia que nos devoram. Não conseguirão mais conter os malefícios, que transformarão a floresta num caos. Então morreremos, um atrás do outro, tanto os brancos quanto nós. Todos os xamãs vão acabar morrendo. Quando não houver mais nenhum deles vivo para sustentar o céu, ele vai desabar."
Davi Kopenawa
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CÁUSTICO Brazil
Noisy Punk Duo - BR
Cáustico é um duo noisypunk experimental de Jundiaí/SP formado por
Matheus
Campos (cordas + synths + voz) e Cely Couto (bateria + voz). Gêneros se fundem e
se chocam entre trítonos e tempos inspirados no caos da crise múltipla.
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